sábado, 26 de maio de 2018

Interrogações...


Interrogações...

Alguns leitores não me conhecem de perto, embora leiam os meus textos, muitas vezes em segredo, temendo ser confundidos com o niilismo dos desajustados e autoexcluídos da pós-modernidade líquida. Temem, no íntimo, que os "saudáveis" dessa sociedade desajustada os confundam com um escritorzinho qualquer, louco e sem futuro, como eu, que vive para infectar feridas narcísicas abertas pelo mal-estar da civilização.

Aos inimigos sinceros e aos amigos fingidos, eu vos confesso, entre envergonhado e arrependido, que já tive carreira no mundo hipócrita do Direito, o lar dos engravatados arrogantes, que se medem por bajulação dissimulada e, não raro, por "meinhas" de masturbação egoica em grupo. Vistosos broches na lapela, ternos caros e bem cortados, símbolos de uma sociedade adoecida, que vive da aparência de sucesso e bem-aventurança, dizem mais sobre esses moços, pobres moços, do que mil palavras: majestosos por fora, mas embusteiros e falastrões por dentro. Fazem discursos empolados, usam expressões raramente compreendidas pelos próprios falantes, flertam com os gregos, para enganar os tolos, citam frases na língua da velha Roma, mas nunca ouviram falar das declinações latinas. Não dominam a "última flor do Lácio, inculta e bela", mas já se sentem aptos para dar preleções aos ignorantes, como eu. Ablativo, dativo, nominativo, acusativo, genitivo, locativo e vocativo parecem o enigma da Esfinge, para esses latinistas de águas rasas, esses borra-botas da latinidade. Copiar uma frase qualquer, num idioma que ninguém fala ou conhece, já é um grandioso feito para essa gente rasa; saber o que significa a citação em latim, porém, seria uma odisséia que eles não ousariam arrostar e vencer.

Como ia dizendo, eu já tive algum dinheiro e até canudo. Um belo dia, eu virei a página. Aliás, eu rasguei a página e lancei ao fogo todos os livros de Direito. Não se assuste, contudo! Os 30 mil livros do Araken pai continuam intactos, embora eu não lhes reconheça qualquer valor: esse fogo é, apenas, metafórico!

O que eu sou hoje? Apenas um projeto inacabado de escritor. Por que inacabado? Porque no dia em que eu me sentir pleno, na arte de escrever, repousarei na campa mais próxima...

Jorge Araken Filho, apenas o ceifador das suas ilusões.

Post scriptum: "fazer meinha", na gíria do universo gay, significa masturbar um ao outro. Como eu sei? Não é da sua conta!



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