Interrogações...
Alguns leitores não me conhecem de
perto, embora leiam os meus textos, muitas vezes em segredo, temendo ser confundidos
com o niilismo dos desajustados e autoexcluídos da pós-modernidade líquida.
Temem, no íntimo, que os "saudáveis" dessa sociedade desajustada os
confundam com um escritorzinho qualquer, louco e sem futuro, como eu, que vive
para infectar feridas narcísicas abertas pelo mal-estar da civilização.
Aos inimigos sinceros e aos amigos
fingidos, eu vos confesso, entre envergonhado e arrependido, que já tive
carreira no mundo hipócrita do Direito, o lar dos engravatados arrogantes, que
se medem por bajulação dissimulada e, não raro, por "meinhas" de
masturbação egoica em grupo. Vistosos broches na lapela, ternos caros e bem
cortados, símbolos de uma sociedade adoecida, que vive da aparência de sucesso
e bem-aventurança, dizem mais sobre esses moços, pobres moços, do que mil
palavras: majestosos por fora, mas embusteiros e falastrões por dentro. Fazem
discursos empolados, usam expressões raramente compreendidas pelos próprios
falantes, flertam com os gregos, para enganar os tolos, citam frases na língua
da velha Roma, mas nunca ouviram falar das declinações latinas. Não dominam a
"última flor do Lácio, inculta e bela", mas já se sentem aptos para
dar preleções aos ignorantes, como eu. Ablativo, dativo, nominativo, acusativo,
genitivo, locativo e vocativo parecem o enigma da Esfinge, para esses
latinistas de águas rasas, esses borra-botas da latinidade. Copiar uma frase
qualquer, num idioma que ninguém fala ou conhece, já é um grandioso feito para
essa gente rasa; saber o que significa a citação em latim, porém, seria uma
odisséia que eles não ousariam arrostar e vencer.
Como ia dizendo, eu já tive algum
dinheiro e até canudo. Um belo dia, eu virei a página. Aliás, eu rasguei a
página e lancei ao fogo todos os livros de Direito. Não se assuste, contudo! Os
30 mil livros do Araken pai continuam intactos, embora eu não lhes reconheça
qualquer valor: esse fogo é, apenas, metafórico!
O que eu sou hoje? Apenas um projeto
inacabado de escritor. Por que inacabado? Porque no dia em que eu me sentir
pleno, na arte de escrever, repousarei na campa mais próxima...
Jorge Araken Filho,
apenas o ceifador das suas ilusões.
Post scriptum:
"fazer meinha", na gíria do universo gay, significa masturbar um ao
outro. Como eu sei? Não é da sua conta!
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