Amiguinho, não masturbe o seu ego!
Eu já o preveni, vezes sem conta, sobre
a farsa vergonhosa do autoelogio. Eu lhe disse que ele varia na proporção
inversa do merecimento e, por mais paradoxal que isso pareça, também do amor
próprio. Quanto mais você se dedica à masturbação do ego, mais idiota e sem
autoestima se revela.
Poupe-se desse constrangimento e, nesse
processo, me poupe!
Na verdade, você precisa compensar o
amor que não tem por si próprio, e a única forma de autoamor que encontra é
fazendo, você mesmo, como espécie de formação reativa, os elogios que não julga
merecer e que, exatamente por esse motivo, não recebe dos outros. A ferida
narcísica aberta pela mediocridade encontra no autoafago piedoso o seu lenitivo.
Quando vejo o desespero com que você
enaltece os seus próprios feitos, invariavelmente banais — façanhas das quais
você mesmo duvida e, por isso mesmo, precisa reafirmar a todo instante — , eu
percebo o quanto eu mesmo fui idiota e pretensioso um dia.
Depois de me perceber tão simplório e
medíocre, tão cheio de dúvidas e espaços vazios, eu só desejo ser reconhecido
como um louco que fala sozinho na contramão desse mundo de bem-aventurados. O
meu ego virou suco no meio de tantos sábios e heróis...
Jorge Araken Filho,
apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.
Post scriptum:
poupe-me dos seus elogios! Eu já faço o impossível para não os merecer...
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