sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Como detectar mentiras e pós-verdades, o novo apelido da manipulação?

Como detectar mentiras e pós-verdades, o novo apelido da manipulação?

Você é um leitor crítico ou um passivo ressentido? Não precisa me responder. A indagação é meramente retórica.

Na verdade, não importa saber o que você andou lendo nos últimos tempos, mas, sobretudo, o que fez com as leituras e experiências que recolheu desses textos. Não se envergonhe de começar pelos gibis e contos de fadas. Eu os leio até hoje, e não me pejo disso. Pelo menos naquele mundo de faz de conta, nós não procuramos verdades ocultas; é tudo de mentirinha...

O grande problema é que muitos leem de forma passiva, sem permear a experiência da leitura com a reflexão, sem depurar a escrita dos seus venenos, sem perceber as ciladas que o escritor deixou pelo caminho. Para esses leitores — normalmente tolos fantasiados de sábios —, a escrita e a leitura caminham juntas, vagando na uniformidade conformista, invariavelmente, mas não por acaso, no sentido que foi sugerido pelo escritor, algumas vezes sub-repticiamente.

Sem a reflexão crítica, para mediar a palavra escrita no seu caminho para se transformar em conhecimento adquirido, o leitor pode ser vítima da falsificação da realidade, acreditando nas versões fantasiosas que os mal-intencionados "vendem" como alternativas, aparentemente verdadeiras, para os fatos da vida, que acabam sendo adulterados com a sua cumplicidade passiva.

Só uma postura ativa, diante da palavra escrita e do conhecimento, pode levar a novas perspectivas para a apropriação da realidade, sem a assimilação cega das versões obscuras que se criaram para os fatos. Leia duas, três ou mais fontes, antes de se deixar enganar pelo ouro dos tolos. Faça o que fizer, porém, nunca pesquise, apenas, nas redes sociais ou em Blogs, mas, sim, em grandes jornais e revistas, checando uns comparativamente com outros. Não desperdice o seu preciso tempo com os noticiosos de reputação duvidosa ou controlados pelos lobos das oligarquias da grande imprensa. Eles têm interesses próprios a defender e, por certo, não coincidem com os seus.

Para cada pós-verdade ou mentira descarada — e essa é uma conclusão óbvia —, existe um bobo ou, em alguns casos, um espertalhão que a propaga e um tolo que acredita. Sem confirmação em várias fontes, arquive o factoide como boato, mentira ou pós-verdade.

Nenhuma forma de manipulação escrita sobrevive sem a passividade do leitor. É a sua cumplicidade resignada que alimenta a manipulação.

Por isso, leia, mas não acredite em tudo que leu: você tem mais neurônios do que uma ovelha! Comece duvidando das suas fontes e, principalmente, do que eu escrevo. As minhas palavras, rotas e repetitivas, podem não passar de um amontoado de tolices, expressões banais e sem outros significados possíveis, além daqueles que todos já conheciam antes de mim. Ou eu posso ser um psicopata manipulador...

Não leia para engolir as “verdades” alheias, mas para desconstruí-las, se necessário em sacrifício da sua popularidade virtual. Existe vida inteligente além da normose. Sabe de uma coisa? Foda-se todo mundo que acredita! Você não é todo mundo, porra. 

Grite, berre, mas não engula abobrinhas. Cento e quarenta caracteres não bastam para o seu manifesto? Resista! Escreva quantas palavras quiser! Se ninguém as ler no início, paciência. De tanto repeti-las, alguém acabará se interessando. Você terá plantado uma pequena semente chamada dúvida...

Acima de tudo, não seja manipulado: é para isso que serve o cérebro, esse órgão estrategicamente situado entre os seus dois ouvidos. Pode apostar que ele não está aí por acaso...

Quem fala nem sempre tem a intenção de informar.

Entre o que se diz e o que se escuta, entre a práxis e o discurso pende, no cabresto, a ingenuidade de quem lê, mas não reflete; acredita, mas não duvida.

Se você quiser saber se determinado fato é verdadeiro, faça uma breve pesquisa no Facebook e no Twitter. Se a versão que você leu ou escutou tornou-se “viral”, aposte todas as suas fichas que é falsa. Não confie em gregos e, menos ainda, em troianos: ambos fingem tanto, que chegam a fingir que é falsa a falsidade que contam. Nesses tempos de pós-verdade, as verdades são mentiras, e as mentiras são provadas como verdades...

Na dúvida, mande todo mundo à merda e não confie em ninguém, nem mesmo em você, quando se perceber muito crédulo e ingênuo. A regra é essa: duvide de todos e de si mesmo, sobretudo quando o esforço probatório lhe parecer maior do que a diligência que a verdade exigiria nas mesmas condições.

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

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