Como detectar mentiras e pós-verdades, o novo apelido da manipulação?
Você é um leitor crítico ou um passivo ressentido?
Não precisa me responder. A indagação é meramente retórica.
Na verdade, não importa saber o que você andou
lendo nos últimos tempos, mas, sobretudo, o que fez com as leituras e
experiências que recolheu desses textos. Não se envergonhe de começar pelos
gibis e contos de fadas. Eu os leio até hoje, e não me pejo disso. Pelo menos naquele mundo de faz de conta, nós não procuramos verdades ocultas; é tudo de mentirinha...
O grande problema é que muitos leem de forma
passiva, sem permear a experiência da leitura com a reflexão, sem depurar a
escrita dos seus venenos, sem perceber as ciladas que o escritor deixou pelo
caminho. Para esses leitores — normalmente tolos fantasiados de sábios —, a
escrita e a leitura caminham juntas, vagando na uniformidade conformista,
invariavelmente, mas não por acaso, no sentido que foi sugerido pelo escritor,
algumas vezes sub-repticiamente.
Sem a reflexão crítica, para mediar a palavra
escrita no seu caminho para se transformar em conhecimento adquirido, o leitor
pode ser vítima da falsificação da realidade, acreditando nas versões fantasiosas que os mal-intencionados "vendem" como alternativas, aparentemente verdadeiras, para os fatos da vida, que acabam sendo adulterados com a sua
cumplicidade passiva.
Só uma postura ativa, diante da palavra escrita e
do conhecimento, pode levar a novas perspectivas para a apropriação da
realidade, sem a assimilação cega das versões obscuras que se criaram para os
fatos. Leia duas, três ou mais fontes, antes de se deixar enganar pelo ouro dos
tolos. Faça o que fizer, porém, nunca pesquise, apenas, nas redes sociais ou em
Blogs, mas, sim, em grandes jornais e
revistas, checando uns comparativamente com outros. Não desperdice o seu preciso
tempo com os noticiosos de reputação duvidosa ou controlados pelos lobos das oligarquias
da grande imprensa. Eles têm interesses próprios a defender e, por certo, não
coincidem com os seus.
Para cada pós-verdade ou mentira descarada — e essa
é uma conclusão óbvia —, existe um bobo ou, em alguns casos, um espertalhão que
a propaga e um tolo que acredita. Sem confirmação em várias fontes, arquive o
factoide como boato, mentira ou pós-verdade.
Nenhuma forma de manipulação escrita sobrevive sem
a passividade do leitor. É a sua cumplicidade resignada que alimenta a
manipulação.
Por isso, leia, mas não acredite em tudo que leu:
você tem mais neurônios do que uma ovelha! Comece duvidando das suas fontes e, principalmente,
do que eu escrevo. As minhas palavras, rotas e repetitivas, podem não passar de
um amontoado de tolices, expressões banais e sem outros significados possíveis,
além daqueles que todos já conheciam antes de mim. Ou eu posso ser um psicopata
manipulador...
Não leia para engolir as “verdades” alheias, mas
para desconstruí-las, se necessário em sacrifício da sua popularidade virtual.
Existe vida inteligente além da normose. Sabe de uma coisa? Foda-se todo mundo
que acredita! Você não é todo mundo, porra.
Grite, berre, mas não engula abobrinhas. Cento e
quarenta caracteres não bastam para o seu manifesto? Resista! Escreva quantas
palavras quiser! Se ninguém as ler no início, paciência. De tanto repeti-las,
alguém acabará se interessando. Você terá plantado uma pequena semente chamada
dúvida...
Acima de tudo, não seja manipulado: é para isso que
serve o cérebro, esse órgão estrategicamente situado entre os seus dois
ouvidos. Pode apostar que ele não está aí por acaso...
Quem fala nem sempre tem a intenção de informar.
Entre o que se diz e o que se escuta, entre a
práxis e o discurso pende, no cabresto, a ingenuidade de quem lê, mas não
reflete; acredita, mas não duvida.
Se você quiser saber se determinado fato é
verdadeiro, faça uma breve pesquisa no Facebook e no Twitter. Se a versão que
você leu ou escutou tornou-se “viral”, aposte todas as suas fichas que é falsa.
Não confie em gregos e, menos ainda, em troianos: ambos fingem tanto, que
chegam a fingir que é falsa a falsidade que contam. Nesses tempos de pós-verdade,
as verdades são mentiras, e as mentiras são provadas como verdades...
Na dúvida, mande todo mundo à merda e não confie em
ninguém, nem mesmo em você, quando se perceber muito crédulo e ingênuo. A
regra é essa: duvide de todos e de si mesmo, sobretudo quando o esforço
probatório lhe parecer maior do que a diligência que a verdade exigiria nas
mesmas condições.
Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos
do tempo.
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