domingo, 5 de novembro de 2017

É verdadeiramente livre quem se acorrenta à insanidade dos outros?

É verdadeiramente livre quem se acorrenta à insanidade dos outros?

A vida pode ser banal e pequena, pode caminhar no preto e branco dos enganos e desenganos, como um grito de horror no inverno, ou pode ser bela e cheia de cores, como uma sinfonia de primavera.

De uma forma ou de outra — caminhante solitário ou ovelha do hebetismo, rico ou miserável, cúmplice da exploração ou indesejado que desafia moinhos de vento —, você terá o mesmo fim inexorável de todos os que o precederam e de todos os que ainda haverão de surgir nas sendas do tempo. Enquanto a humanidade não for extinta, tudo será como tem sido até aqui: não importa o que acumule de riquezas e experiências negativas ou positivas, da morte você não poderá escapar, por mais que tente fugir do seu espectro assustador. Diante dos abutres que o espreitam, só lhe resta, como lenitivo contra a angústia, apreciar a paisagem do percurso. A vitória, na linha de chegada, significará a morte, o fim da sua existência... Em seguida, virá o progressivo esquecimento pelos vivos, temerosos de que a sua extinção lembre que eles, também, são finitos, contingentes e mortais. Meu caro leitor, enterro dá fome! Não se engane: eles encherão a barriga no Shopping mais próximo, depois que o seu corpo sem vida baixar à campa.

Viver é ressignificar o desamparo todos os dias, rompendo as amarras que o aprisionam na zona de conforto. A vida deve ser um ponto fora da curva, um eco indistinto de sinfonias que o instiguem a flertar com o abismo, vagando com o louco da esquina, aquele da infância, que o convidava a caminhar em sua ilusão.

Aposto que você morria de medo daquele ser incompreendido, o homem sem rosto das esquinas sem nome, o cara esquisito que falava sozinho, com a mãezinha de outrora, que lhe soprava aos ouvidos palavras de amor. Bem sei que você se imaginava mais lúcido e mais digno do que ele. Mesmo agora — que se imagina amadurecido — você morre um pouco todos os dias, como Prometeu em seu rochedo na Cítia, mas não percebe que ele — o louco que fazia curvas no destino, o cara sem nome, sem comida e sem abrigo —, ele é que era feliz na sua aparente insanidade... Ele era livre para viver a sua própria loucura... Em suas mãos, pousavam borboletas aflitas em busca de paz e amor... E nas suas?...

Você — que se acorrentou à insanidade dos outros — é verdadeiramente livre ou é apenas gado humano? As piores correntes são imaginárias... Pare de seguir o rebanho e encontre seu próprio caminho!

Livre é quem vive a própria loucura, e não a loucura dos outros.

Enlouqueça, antes que seja tarde!


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

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