É verdadeiramente livre quem se acorrenta à insanidade dos
outros?
A vida pode ser banal e pequena, pode
caminhar no preto e branco dos enganos e desenganos, como um grito de horror no
inverno, ou pode ser bela e cheia de cores, como uma sinfonia de primavera.
De uma forma ou de outra — caminhante
solitário ou ovelha do hebetismo, rico ou miserável, cúmplice da exploração ou
indesejado que desafia moinhos de vento —, você terá o mesmo fim inexorável de
todos os que o precederam e de todos os que ainda haverão de surgir nas sendas
do tempo. Enquanto a humanidade não for extinta, tudo será como tem sido até
aqui: não importa o que acumule de riquezas e experiências negativas ou
positivas, da morte você não poderá escapar, por mais que tente fugir do seu espectro
assustador. Diante dos abutres que o espreitam, só lhe resta, como lenitivo
contra a angústia, apreciar a paisagem do percurso. A vitória, na linha de
chegada, significará a morte, o fim da sua existência... Em seguida, virá o
progressivo esquecimento pelos vivos, temerosos de que a sua extinção lembre
que eles, também, são finitos, contingentes e mortais. Meu caro leitor, enterro
dá fome! Não se engane: eles encherão a barriga no Shopping mais próximo,
depois que o seu corpo sem vida baixar à campa.
Viver é ressignificar o desamparo todos
os dias, rompendo as amarras que o aprisionam na zona de conforto. A vida deve
ser um ponto fora da curva, um eco indistinto de sinfonias que o instiguem a
flertar com o abismo, vagando com o louco da esquina, aquele da infância, que o
convidava a caminhar em sua ilusão.
Aposto que você morria de medo daquele
ser incompreendido, o homem sem rosto das esquinas sem nome, o cara esquisito
que falava sozinho, com a mãezinha de outrora, que lhe soprava aos ouvidos
palavras de amor. Bem sei que você se imaginava mais lúcido e mais digno do que
ele. Mesmo agora — que se imagina amadurecido — você morre um pouco todos os
dias, como Prometeu em seu rochedo na Cítia, mas não percebe que ele — o louco
que fazia curvas no destino, o cara sem nome, sem comida e sem abrigo —, ele é
que era feliz na sua aparente insanidade... Ele era livre para viver a sua
própria loucura... Em suas mãos, pousavam borboletas aflitas em busca de paz e
amor... E nas suas?...
Você — que se acorrentou à insanidade
dos outros — é verdadeiramente livre ou é apenas gado humano? As piores
correntes são imaginárias... Pare de seguir o rebanho e encontre seu próprio
caminho!
Livre é quem vive a própria loucura, e
não a loucura dos outros.
Enlouqueça, antes que seja tarde!
Jorge Araken Filho,
apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.
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