Relaxa e goza no teu mar de giletes!
A vantagem de sabotar o próprio destino é
que, mais cedo ou mais tarde, você acaba conseguindo... E na zona de conforto, na verdade um mar de
giletes, o autossabotador relaxa e goza, imaginando que os perigos desse mundo
desconhecido e caótico não compensam o prazer eventual que se teria arriscando
outros caminhos.
O mais difícil é desconstruir a realidade,
para criar um destino alternativo. Muitas vezes só o esgarçamento do ego, com a desconstrução das conexões
que nos levavam à autossabotagem, pode
dar à vida um significado que faça valer a pena sair da imobilidade.
Mas o que nos impede
de reconhecer o nosso próprio desamparo na zona de conforto, perceber, enfim,
que nada está bem nesse estado de letargia em que nos paralisamos ou, ao menos,
que tudo poderia estar melhor e mais prazeroso, se ao menos agíssemos? O
orgulho, a autopiedade ou a pulsão de morte?
Muitas vezes — bem
mais do que admitimos —, o orgulho nos impede de admitir o fracasso, por maior
e mais profundo que seja o abismo em que mergulhamos. Para não demonstrar
fraqueza, vestimos uma armadura de titânio, para esconder um corpo frágil e
descartável, que verte o sangue dos mortais, embora aparente ser forte e
indestrutível.
Outras vezes, porém,
é o sentimento de autopiedade que nos move. Desejamos capturar a comiseração do
outro para a nossa dor, atuando, no teatro da vida, como coitadinhos que
renunciam ao paraíso e decidem viver no Hades por vontade própria. A piedade
que temos com o nosso próprio sofrimento precisa ser confirmada por todos, para
nos dar razão, quando nos prostramos diante do fracasso.
Mas a razão mais
frequente, para não pedir ajuda, é a pulsão de morte, que alimenta o circuito
fechado da autossabotagem, até que o sujeito se torne o objeto do seu próprio
desígnio de autodestruição. Quando se aniquila atinge o gozo e, não raro,
destrói a própria vida, metafórica ou literalmente.
A zona de conforto é
como um mar de giletes: quanto mais nos debatemos, mais nos cortamos.
Autossabotagem é encontrar o gozo nesse inferno emocional, fantasiando-o como o paraíso.
Qual é, então, o
mais perdido dos homens?
É o que não sabe a
hora certa de pedir ajuda!
Jorge Araken Filho, apenas um
coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.
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