domingo, 27 de agosto de 2017

Desejo alguém que me ame do jeitinho que eu sou!

Desejo alguém que me ame do jeitinho que eu sou!

O pior da angústia — essa tortura que nos infligimos, quando nos tornamos reféns da vontade dos outros ou quando reprimimos desejos que nos causam dor — é a sensação de que não há como escapar das suas garras, é a paralisia no desamparo, é a sensação de estar sendo perseguido por um monstro que sempre nos alcança.

A angústia, mais do que tudo, indica que estamos cativos do gozo infinito e permanente, uma tendência de fugir dos desejos e pulsões que causam desprazer.

Vivemos, então, apáticos e resignados, numa posição passiva que nos impede de lutar pelos nossos desejos, fazendo-nos agradar às expectativas alheias, e não às nossas.

Essa angústia existe, portanto, quando os nossos desejos perdem a sua voz e se calam diante do outro, de quem nos tornamos reféns. Não saber sobre as minhas verdades é o que define a angústia, uma força repressora que cala o discurso do inconsciente sobre os meus próprios desejos e pulsões.

Agradar aos outros, essa é a maior das angústias: nunca satisfazemos as expectativas alheias, nem damos curso aos nossos próprios desejos. O gozo que experimentamos na angústia de agradar a todos, sendo passivo e resignado, justamente porque reside nas expectativas do outro e no abdicar da luta pelos nossos próprios desejos, deixa sempre um gostinho amargo na boca. É a droga maldita que, a cada dose, nos faz desejar mais, sem, contudo, nos assegurar a plenitude do gozo. Vivemos a agonia de preencher as expectativas alheias, mas nunca estamos satisfeitos com o que já fizemos, muitas vezes nem o outro nos gratifica da forma que esperávamos. E nos frustramos, acusando o outro de ingratidão, sem perceber que abrir mão de nós mesmos é escolha pessoal, e não obrigação.

Depois de ser o que todos esperam nas redes sociais, no círculo de amigos, na família ou no trabalho, eu farei isto ou aquilo, serei recompensado desta ou daquela forma. Assim agindo, eu enveneno a minha própria existência com essa angustia desenfreada de realizar os desejos alheios, em vez de ser feliz e desfrutar o presente, gratificando os meus próprios desejos, mesmo que contrariem as expectativas dos outros.

Não preciso realizar todas as minhas loucuras, nem devo pretender que o universo gire em torno de mim, mas também não posso reprimir todas as forças que pulsam no meu inconsciente.

O segredo é se importar menos com o que pensam de mim. Quem me julga certamente não se olha no espelho ou, se olha, prefere projetar em mim a imagem sombria que vê refletida. Nada que um bom “foda-se” não resolva!

Quero alguém que me aceite com as minhas circunstâncias, porque é só isso que eu devolverei; alguém que cante essa canção ao meu ouvido; não precisa ter a voz de Diana Krall, mas precisa me amar do jeitinho que eu sou!

Jorge Araken filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

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