Desejo
alguém que me ame do jeitinho que eu sou!
O
pior da angústia — essa tortura que nos infligimos, quando nos tornamos reféns
da vontade dos outros ou quando reprimimos desejos que nos causam dor — é a
sensação de que não há como escapar das suas garras, é a paralisia no
desamparo, é a sensação de estar sendo perseguido por um monstro que sempre nos
alcança.
A
angústia, mais do que tudo, indica que estamos cativos do gozo infinito e
permanente, uma tendência de fugir dos desejos e pulsões que causam desprazer.
Vivemos,
então, apáticos e resignados, numa posição passiva que nos impede de lutar
pelos nossos desejos, fazendo-nos agradar às expectativas alheias, e não às
nossas.
Essa
angústia existe, portanto, quando os nossos desejos perdem a sua voz e se calam
diante do outro, de quem nos tornamos reféns. Não saber sobre as minhas verdades
é o que define a angústia, uma força repressora que cala o discurso do
inconsciente sobre os meus próprios desejos e pulsões.
Agradar
aos outros, essa é a maior das angústias: nunca satisfazemos as expectativas
alheias, nem damos curso aos nossos próprios desejos. O gozo que experimentamos
na angústia de agradar a todos, sendo passivo e resignado, justamente porque
reside nas expectativas do outro e no abdicar da luta pelos nossos próprios
desejos, deixa sempre um gostinho amargo na boca. É a droga maldita que, a cada
dose, nos faz desejar mais, sem, contudo, nos assegurar a plenitude do gozo. Vivemos
a agonia de preencher as expectativas alheias, mas nunca estamos satisfeitos
com o que já fizemos, muitas vezes nem o outro nos gratifica da forma que
esperávamos. E nos frustramos, acusando o outro de ingratidão, sem perceber que
abrir mão de nós mesmos é escolha pessoal, e não obrigação.
Depois
de ser o que todos esperam nas redes sociais, no círculo de amigos, na família
ou no trabalho, eu farei isto ou aquilo, serei recompensado desta ou daquela
forma. Assim agindo, eu enveneno a minha própria
existência com essa angustia desenfreada de realizar os desejos alheios, em vez
de ser feliz e desfrutar o presente, gratificando os meus próprios desejos,
mesmo que contrariem as expectativas dos outros.
Não
preciso realizar todas as minhas loucuras, nem devo pretender que o universo
gire em torno de mim, mas também não posso reprimir todas as forças que pulsam
no meu inconsciente.
O
segredo é se importar menos com o que pensam de mim. Quem me julga certamente
não se olha no espelho ou, se olha, prefere projetar em mim a imagem sombria
que vê refletida. Nada que um bom “foda-se” não resolva!
Quero
alguém que me aceite com as minhas circunstâncias, porque é só isso que eu devolverei; alguém que cante essa canção ao meu ouvido; não precisa ter a voz de
Diana Krall, mas precisa me amar do jeitinho que eu sou!
Jorge
Araken filho,
apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.
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