Morrer para quê? Se nem a morte, inexorável e infausta morte, me
traria prazer?
Confesso
que estou triste, quase desistindo de sonhar, depois de tanto ver triunfar a
falsidade, a traição, a injustiça e a mentira! Reconhecer-me o nada que temia
ser é, talvez, a pior das feridas narcísicas que o tempo abriu nos meus afetos.
Abatido e sem forças, decepciono-me comigo mesmo,
por não ser o homem do meu tempo, o cara da balada que não compromete com as
fêmeas da espécie, que beija mulheres efêmeras sem lhes saber os nomes, que faz
sexo sem compromisso, que penetra todas as carnes da noite, mas não chora, não
sofre, não ama! Simplesmente possui as mulheres, desfila carros que não pode
pagar, conta proezas que nunca realizou... É o rei da balada, modelo do Instagram, poucos neurônios e muitos
músculos, o verdadeiro Príncipe sem reino, caçador de presas fáceis...
Mas sou apenas esse projeto frustrado de
Escritor, o triste epitáfio de uma vida fora do seu tempo!
Encarcerado em minha própria mente, passo os
dias a matar o tempo, ao invés de vivê-lo! Já não espero mais nada, nem dos
sonhos! Confesso que nem o beijo da morte, o mais indesejado de todos, me
emocionaria nesse momento. Por isso, prefiro continuar vivo! Morrer para quê? Se
nem a morte, inexorável e infausta morte, me traria prazer? Permanecendo vivo,
posso, ao menos, incomodar os viventes com a minha navalha em forma de
língua... Os que não gostam do que escrevo — infelizmente uma legião silenciosa
e sombria — que se aguentem com as suas carapuças rotas!
Vivo, sou peixe fora d’água; morto, apenas
olvido. Por isso, vivo! Antes peixe no
asfalto do que carne apodrecida nos obituários do tempo.
Jorge Araken Filho, apenas um
coletor de palavras perdidas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário