Qual é o mais
perdido dos homens?
Antes de responder à
indagação inicial, preciso formular outra pergunta: o que nos impede de
reconhecer o nosso próprio desamparo? O orgulho, a autopiedade ou a pulsão de
morte?
Muitas vezes — bem
mais do que admitimos —, o orgulho nos impede de admitir o fracasso, por maior
e mais profundo que seja o abismo em que mergulhamos. Para não demonstrar
fraqueza, vestimos uma armadura de titânio, para esconder um corpo frágil e
descartável, que verte o sangue dos mortais, embora aparente ser forte e
indestrutível.
Outras vezes, porém,
é o sentimento de autopiedade que nos move. Desejamos capturar a comiseração do
outro para a nossa dor, atuando, no teatro da vida, como coitadinhos que
renunciam ao paraíso e decidem viver no Hades por vontade própria. A piedade
que temos com o nosso próprio sofrimento precisa ser confirmada por todos, para
nos dar razão, quando nos prostramos diante do fracasso.
Mas a razão mais
frequente, para não pedir ajuda, é a pulsão de morte, que alimenta o circuito
fechado da autossabotagem, até que o sujeito se torne o objeto do seu próprio
desígnio de autodestruição. Quando se aniquila atinge o gozo...
Qual é, então, o
mais perdido dos homens?
É o que não sabe a
hora certa de pedir ajuda!
Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos
do tempo.
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