terça-feira, 23 de agosto de 2016

Autopiedade

Autopiedade

Tão úteis quanto baldes sem fundo são as nossas decepções, quando sentimos pena de nós mesmos...


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

Mais do que uma arte, o Teatro é a minha forma de viver...

Mais do que uma arte, o Teatro é a minha forma de viver...

É realmente magnífica e indescritível a experiência que estou vivenciando nessa fase difícil da vida.

Escrever a minha primeira Peça tem sido a forma perfeita para exorcizar os meus demônios. Não importa se ela jamais chegará aos palcos. Só o prazer de escrevê-la me basta.

Em certos momentos, surpreendo-me a rir sozinho, absorto no mundo de fantasia dos meus personagens, que se torna estranhamente real...

A tessitura narrativa da peça, mais próxima da comédia do que da tragédia, torna o texto mais aderente ao desejo humano de satirizar a sua própria desgraça.

Aguardem!


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

Meu epitáfio

A obra que eu sonho escrever....


Ilusão é remendar copos de cristal...

Ilusão é remendar copos de cristal...

O pior do passado pode ser, também, a sua melhor característica: não podemos modificá-lo. Ele se esgota a cada instante, encerra-se no lapso de tempo vivido, e não retorna jamais, a não ser como memória.

Sendo o passado imune aos nossos desígnios, não precisamos desperdiçar o presente nas memórias nostálgicas que ele deixou. O que foi feito jamais será desfeito, por mais que isso nos cause dor e sofrimento.

Só podemos lidar com as consequências do que fizemos ou deixamos de fazer, mas elas, igualmente, não são definitivas, já que nem a própria vida o é.

O que não tem remédio remediado está! Traduzindo: se o cristal quebrou não gaste seu tempo tentando remendar o copo. Ou você o transforma em relíquia da sua nostalgia, penando no limbo dos deprimidos, ou aprende a viver sem copos de cristal.

Se a pessoa a quem magoou espera que você passe o resto da vida em autoflagelação, rasgando os pulsos com gilete, para redimir-se do passado, lembre-se de que nada irá reconstruir os afetos perdidos, nem a sua eterna expiação.

Como deveriam ter sido as emoções e os sentimentos — os nossos e os da pessoa a quem ferimos —, se houvéssemos agido dessa ou daquela forma, é algo fora da dimensão do tempo atual, a única sobre a qual temos algum poder.

Só podemos construir o presente; o passado é intocável e o futuro pode não chegar! Sempre morremos no presente.

Por isso, eu apenas aceito o passado: dói menos...


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

domingo, 21 de agosto de 2016

A verdade machuca, mas liberta...

A verdade machuca, mas liberta...

Ele a traiu?

Tem certeza de que não é paranoia?

Então, agradeça e diga adeus...


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

Apenas deixe ir...

Apenas deixe ir...

Um pai indaga ao filho:

— Aonde você vai, com essa mala?

— Não ser como você!

O pai faz silêncio, olha o filho pela última vez e o deixa partir; a porta se fecha e as lágrimas descem, profusas, dos seu olhos encanecidos pela dor. Solitário, como nunca esteve antes, ele chora o destino que cavou com os próprios pés.

Pode parecer cruel, mas o filho tem razão. Muitas vezes só a distância nos poupa do destino de alguém que desistiu da vida. Dar a mão pode aniquilar a ambos...

Se você desistiu da vida, apenas deixe ir a quem ama...


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

Distração ou desprezo, eis a questão!

Distração ou desprezo, eis a questão!

Ele não percebeu que você mudou o cabelo ou está usando uma nova maquiagem e um novo modelo de roupa?

Que pena, minha amiga Cinderela!

O pior é que isso foi acontecer logo hoje, esse dia especial em que você, apaixonada e iludida, com a autoestima na lama, passou horas no salão, depilou a virilha, fez as unhas, gastou horas cuidando dos cabelos e escolhendo a roupa certa para seduzi-lo?!

Quer mesmo que eu sinta pena de você? É isso? Então, lá vai: coitadinha! Não adiantou nada... Não é mesmo?

Eu sei o que se passa no seu coração magoado: você está tentando se enganar, justificando, mentalmente, a "distração" do seu "príncipe encantado"...

Pode apostar; ele não é distraído; é apenas egocêntrico. Só pensa nele mesmo e não a ama.

Quer saber a verdade? Ele simplesmente não está a fim de você! E o nome da emoção que você desperta nele é desprezo!

Clique no endereço abaixo e aproveite a oportunidade para identificar os sinais do desprezo masculino.

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.



O gracejo e a intolerância: as fronteiras entre o bom humor e o bullying!

O gracejo e a intolerância: as fronteiras entre o bom humor e o bullying!

O grande dilema da piadinha sem graça, normalmente carregada de intolerância e preconceito, é que ela afasta o gracejador de si mesmo o tempo suficiente para impedi-lo de se perceber como a pessoa a quem tanto despreza.

A máscara do comentário aparentemente tolo, muitas vezes um chiste, também conhecido como gracejo, esconde, na verdade, uma formação reativa, ou seja, você é o que não expressa em si mesmo e, justamente por negar, não tolera no outro.

Esse fenômeno — a formação reativa — é um mecanismo psíquico que revela a aderência a um pensamento oposto ao que foi, de alguma forma, recalcado, que continua inconsciente, retornando, porém, à consciência sob o disfarce de uma ideia contrária.

O melhor exemplo de formação reativa é o da pessoa com comportamento homofóbico, que, contrariamente ao que expressa, sente-se atraída por pessoas do mesmo sexo, mesmo sem ter consciência da sua própria homoafetividade. Outro exemplo, igualmente significativo, é o do ateu que hostiliza, gratuitamente, a imagem e a ideia de Deus, sendo intolerante à alteridade e à multiplicidade da experiência humana.

O que não tolera no outro é uma projeção de si mesmo e, dessa forma, leva ao ser obscuro dentro do seu inconsciente.

Use o gracejo (chiste) para se conhecer, e não para projetar no outro a sua própria sombra!

Se algumas pessoas ou assuntos lhe parecem insignificantes, muitas vezes desprezíveis, talvez odiosos, e você, como mecanismo de defesa do ego, se recusa a falar e a refletir sobre eles, resistindo, com intolerância e menosprezo, às pessoas que o mencionam, pode apostar que carregam, para você, mais significados reprimidos do que o seu ego pode suportar.

Enfrente-os, antes que se tornem o seu destino!

Se você não deseja revelar os seus próprios demônios, projetando-os nas suas vítimas, tenha cuidado com a "alugação": ela burla os seus mecanismos de repressão, e a narrativa, disfarçada de “nonsense”, passa a ter como objetos os seus desejos e pulsões reprimidos. A piada é você e não a vítima do bullying!

Sabe qual é o maior problema da civilização?

Intolerância demais e humanidade de menos.

Ame-se! A sua intolerância pode ser falta de amor próprio. Você projeta nas pessoas que odeia as sombras que não tolera ver em si mesmo e, sendo vazio de autoestima e oco de imaginação, vê com preconceito as ideias do outro, porque revelam a sua própria falta de ideias. E isso é insuportável. Por isso você agride.

Tenho pena por você ser tão supérfluo, banal e pequeno!

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Esclarecimento sincero

Esclarecimento sincero

Aos amigos leitores, informo que o meu recolhimento, nos últimos dias, com raras postagens e breves comentários, serve como catarse para purgar os meus sentimentos e emoções, libertando-os das sombras obscuras que os encobrem e das pulsões a que estão ligados.

Aproveito esses dias de mergulho existencial (para ser falso) ou depressão (para ser sincero) e tento concluir a minha Peça de Teatro, mesmo sabendo que as chances de vê-la encenada, algum dia, são muito remotas.

Ainda assim, tenho de vê-la concluída, com o baixar do pano na cena final, não só em homenagem a vocês, leitores, mas por mim...

E não tem sido fácil dar vida aos personagens... Ando tão sem vida ultimamente... Mas chegarei lá...


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

“De agora em diante, não serei distante, eu vou estar aqui...”

“De agora em diante, não serei distante, eu vou estar aqui...”

A quem magoei com as minhas vaidades, a quem feri com as lanças do meu egoísmo, fantasmas do passado que ainda me assombram, confesso que errei, tantas vezes sofri e fiz sofrer, andei por caminhos que me levaram ao abismo, derramei lágrimas de dor e desengano, mas, "de agora em diante, não vou ser distante; eu vou estar aqui..."

Tarde demais?

Será mesmo inexorável o destino que cavamos com os nossos pés, será que apenas a morte nos alivia da culpa? Ou o destino é apenas o que fazemos dele de agora em diante?

Enquanto houver vida, "vou pedir ao tempo que me dê mais tempo para olhar para ti..."

“Não sei, se andei depressa demais
Mas sei que algum sorriso eu perdi
Vou pedir ao tempo,
que me dê mais tempo
para olhar para ti
De agora em diante,
não serei distante
Eu vou estar aqui"

Como disse Tom Jobim, falando da minha eterna insensatez,

"A insensatez
Que você fez,
coração mais sem cuidado.
Fez chorar de dor
o seu amor, um amor
tão delicado.
Ah, porque você
foi fraco assim,
assim tão desalmado.
Ah, meu coração,
quem nunca amou
não merece ser amado.
Vai meu coração,
pede perdão,
ouve a razão,
usa só sinceridade.
Quem semeia vento,
diz a razão,
colhe sempre tempestade.
Vai meu coração,
pede perdão,
perdão apaixonado.
Vai porque quem não
pede perdão
não é nunca perdoado."

Por isso, peço perdão, um perdão apaixonado, a todos que fiz chorar!

Contudo, digo-lhes, com o olhar iluminado pela esperança: a vida é de agora em diante...

Vamos abandonar as âncoras que nos impedem de navegar! O que passou, passou... Se ainda não passou, para esses que eu fiz chorar e sofrer, não posso senão lamentar por suas vidas ancoradas no que se foi ou deixou de ser. As suas lágrimas estão sendo derramadas em vão... As lembranças que nos fazem chorar acabam desconstruindo o presente e condenando o futuro.

Ninguém é perfeito, nem você que me aponta o dedo!

Tornar consciente a nossa própria sombra é o início de tudo... Quando iluminamos o nevoeiro dos nossos afetos sombrios passamos a enxergar o outro com um olhar menos crítico.

Somos parecidos, mesmo quando nos negamos a ver o orgulho disfarçado de autopiedade...

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.



segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Insensatez

Insensatez

Nesse mundo de santos e bem-aventurados, de pais perfeitos e filhos encastelados no altar, tempo dos senhores da razão, dos arautos do bem comum e da moralidade infinita, dessa gente sábia, com os seus julgamentos infalíveis, eu só ando em busca dos meus demônios...

Ah, essa minha insensatez...


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

Nada se leva dessa vida...

Nada se leva dessa vida...

Nada levamos dessa vida, nem o ressentimento que bebemos em vida, esperando envenenar a quem nos feriu.

Magoados, morremos nós...

Por isso, não se iluda: a morte cura todas as dores!


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

Perdoe-se: o que não tem remédio, remediado está

Perdoe-se: o que não tem remédio, remediado está

Por maior que seja a dor e o arrependimento, alguns erros jamais se consertam. Não adianta baixar a cabeça ou buscar, na autoimolação servil, o perdão dos que sofreram com as nossas atitudes imaturas, que tomamos, não raro, sem pesar as consequências. Dizer que sentimos muito não desfaz o passado, nem diminui a dor pelo que foi feito ou dito por vontade própria.

Quando tentamos esquecer o sofrimento, recalcando-o no inconsciente, apenas alimentamos uma ilusão, temporária e imatura, de alívio, uma simples defesa do ego que não sabe lidar com a dor.

O esquecimento não supera o trauma, simplesmente anestesia a consciência, deixando o sofrimento em estado latente.

A dor psíquica, em especial a que vivenciamos na separação amorosa ou na morte do ser amado, mas também nas rupturas familiares — com os pais, filhos ou irmãos —, traduz, na verdade, uma reação defensiva de quem busca reencontrar-se depois de uma ruptura traumática com o objeto do seu amor.

Amadurecer não é se iludir com o esquecimento, mas superar a dor; é aprender com o trauma, para se reencontrar; é unificar o próprio eu que, ficou esquartejado entre o amor ao outro e a sua ausência.

Devemos viver as nossas dores, para não repetir as suas causas! As setas lançadas ao vento não podem ser apagadas do espaço-tempo, mas apenas transformadas em amadurecimento.

Enuncia a “lei da conservação das massas”, mais conhecida como “lei de Lavoisier”, que "na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

Nada se perde, nem a dor psíquica: ela apenas se transforma!

A dor apenas se decompõe em algo criativo ou destrutivo, conforme a sua vítima, no processo de superá-la, aprenda a usar essa energia em estado bruto para pavimentar um caminho alternativo ou para atolar-se no pântano da negação enganosa.

Quando renegamos a dor, fingindo que desapareceu misticamente, criamos uma ilusão temporária de paz, que tampa a cratera do vulcão, mas não extingue a chama inicial, que permanece nas profundezas do inconsciente, somando forças com o id, para atacar o ego. Um dia, normalmente quando estamos distraídos, ocorre a erupção catastrófica. Só então, destruídos pelas forças que não enfrentamos com maturidade, percebemos que a dor não sumiu.

Não se iluda com negações delirantes! A dor não desaparece: ela se transforma na singularidade de um buraco negro, de onde nem a luz escapa, se você simplesmente negá-la; ou se torna uma nova estrela, um recomeço, se você alimentá-la com o gás do amadurecimento.

Antes de imaginar que o seu mal não tem cura ou é privilégio seu,

“Volte seus olhos para dentro, contemple suas profundezas, aprenda primeiro a conhecer- se então compreenderá porque está destinado a ficar doente e, talvez evite a adoecer no futuro.” (Sigmund Freud, “Uma Dificuldade no Caminho da Psicanálise”. Versão extraída da tradução inglesa, com um novo título, “A Difficulty in the Path of Psycho-Analysis”, publicada em 1925).

Estou propondo a física das emoções, reduzindo os sentimentos (“pathos”)? Longe disso. . . Trata-se, apenas, da singularidade das leis emocionais, um estranho lugar onde a gravidade é tão absurda, as forças em jogo são tão violentas, que distorcem o tempo e o espaço das nossas ações e reações diante do destino, o estranho ponto das emoções e afetos em que vamos criando o caminho, mas chamando de sorte ou azar.

Tudo começa com um mal-estar e, aos poucos, vem a dor psíquica, que, deixando de ser apenas sintoma, transforma-se na própria doença.

Diante de algum sintoma, procure um especialista!

Contudo, enquanto permanecer sentado na poltrona dos reprimidos, à espera de Godot, negando a si mesmo os sintomas, aproveite o tempo para descarregar-se dos afetos patogênicos, conscientizando-se deles, antes que distorçam a sua realidade psíquica, contaminando a vida que ainda tem por usufruir.

Lugar de lixo emocional é no setor de reciclagem da realidade, e não no seu inconsciente, recalcado sob o manto da negação e da fantasia.

Não negue a si mesmo o seu lixo afetivo: reconheça-o e o recicle.

O que resta, muitas vezes, é conviver com as sequelas e seguir em frente, deixando pelo caminho os destroços que não puderam ser refeitos.

A cada um a sua própria jornada, embora o destino seja o mesmo! E nem sempre é fácil atravessar os nossos desertos. Eles são pessoais e intransferíveis. A poeira nos olhos é o menor dos desafios. A grande provação é não fechá-los ao caminhar.

Os erros que cometemos, as pessoas magoamos são caminhos sem volta. É impossível retornar no tempo. . . Qualquer mudança, qualquer compensação estará no presente, e não apagará o que foi feito. Mas o perdão — necessário para seguir em frente — deve vir de você mesmo, porque o sentimento de culpa corrói mais do que mágoa do outro.

Não deixe para amanhã, simplesmente deixe para lá! O que não tem remédio, remediado está. Perdoe-se!

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.



Ainda revelando as sombras...

Ainda revelando as sombras...

Complementando a postagem anterior, em que tento iluminar as sombras do humano, evoco uma pintura de Salvador Dali, pintor surrealista espanhol.

A tela representa a figura de uma mulher pensativa e sua sombra, que se projeta no vazio, evocando a melancolia e o desamparo da sua existência.

A solidão opressiva fica delineada na tristeza do gesto e na cabeça inclinada, com as mãos encobrindo os olhos.

A sombra, neste caso, representa o inconsciente, o “eu mais profundo”, do qual ela não consegue separar-se por completo. A sombra sempre a persegue...


Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.

A sombra que projetamos

A sombra que projetamos

Cada ser humano traz consigo uma sombra, e isso é inevitável; é parte da herança que carregamos no inconsciente coletivo, é algo que perpassa as gerações do Homo ‘pretensamente’ sapiens, e assim continuará sendo pelos próximos milênios.

O difícil é não projetar a minha sombra nos outros, para me sentir menos sombrio; é não infectar com a minha nostalgia os que parecem felizes, para me sentir menos desamparado; é não lançar no mundo os meus dejetos de intolerância, para me sentir menos lixo.

Esse é o grande desafio do amadurecimento, o passo decisivo para iluminar o inconsciente, o olhar para dentro, para me transformar no que sou de verdade e, assim, deixar de ser o que os outros esperam de mim. Só me olhando no espelho, reconhecendo-me, enfim, como sou, posso sair dessa postura apática e passiva, em que aceito, catatônico, as respostas que o mundo dá à indagação suprema de quem eu sou bem lá no fundo, não nessa rede de intrigas que chamo de ego, mas abaixo dessa crosta de aparências enganosas.

Quem sabe é lá, nesse lado sombrio, oculto na posta-restante, que repousa o melhor que há em mim?

Aprendi a ser mais modesto: quero ser apenas o que sou, e não que fingia ser. Carrego comigo todo o legado da miséria humana, mas ao menos não nego, e isso já é revelador para uma existência banal e pequena como a minha. Sei que sou eu próprio um flagelo, para mim e para os que foram obscurecidos pela minha sombra.

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.



domingo, 14 de agosto de 2016

Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração!

Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração!

Em certos dias apenas dói, em outros rasga a pele, mas existem momentos, como hoje, em que o próprio coração se dilacera, deixando, pelo caminho, pequenas gotas do meu sangue... Mas sei, ainda assim, que carrego os meus próprios fantasmas... Só a morte haverá de lhes dar sepultura... Enquanto não dou o derradeiro suspiro, vou seguindo em passos trôpegos, arrastando-me, aqui e ali, sem mendigar afetos fingidos. Aprendi a não superar os limites do amor próprio.

Eu poderia ser apenas hipócrita, como esses moços — pobres moços — que navegam nas redes sociais...

Quem me conhece sabe do que estou falando...


Jorge Araken Filho, apenas um ser humano...


É preciso despir-se passado

É preciso despir-se passado

Para mim, um simples coletor de palavras, um ser humano banal que vive no presente, o essencial não é se despir — apenas — das chaves do carro ou das roupas e cartões de crédito, enfim, do que é supérfluo, mas dos personagens do passado que ainda causam dor e que os parceiros, apegados a alguém que se foi por vontade própria, ainda buscam encontrar um no outro.

Muitos transam com você, mas estão fazendo amor com o fantasma que jaz insepulto embaixo da cama; buscam no outro alguém que se foi, mas deixou pegadas de dor e sofrimento que, na carência afetiva, são confundidas com amor.

Na verdade, não passam de apego obsessivo a uma antiga paixão. E ninguém merece carregar os fantasmas do outro, principalmente quando o parceiro abdica da própria autoestima, para mendigar o afeto de quem o abandonou ou traiu!

Quero alguém que deseje me encontrar nos meus desvios e atalhos, nos vãos e reentrâncias dos meus desencontros, nas palavras que não disse, nos enganos e desenganos da minha existência humanamente medíocre, no reflexo do meu Narciso, no eco das minhas dores surdas.

Não quero uma louca enamorada de um vulto de fantasma! Não vou devolver seus lamentos e rancores com o passado de dor e nostalgia, não vou ecoar seu grito de agonia. Vou transformá-los em leves sussurros, que o tempo haverá de dissipar. Essa é a pessoa com quem desejo fazer amor...

Jorge Araken filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.


sábado, 13 de agosto de 2016

A lei do retorno e o narcisismo

A lei do retorno e o narcisismo

Narcisismo é quando a fala aparece mais do que a escuta, a forma mais do que a essência, o continente mais do que o conteúdo, a versão mais do que o fato, a fantasia mais do que a realidade, a imagem do corpo mais do que a sua linguagem.

O grande mal dos relacionamentos, verdadeira chave para a infelicidade a dois, é que só percebemos o outro, quando ele é espelho dos nossos desejos. E isso serve para a interação com os pais, filhos e outros parentes, assim como para os romances entre os humanos de todos os tempos e idades.

Como disse o poeta Caetano Veloso, em Sampa:

"Quando eu te encarei frente a frente,
e não vi o meu rosto,
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto.
É que Narciso acha feio o que não é espelho."

Somos essencialmente narcisistas e autocentrados, rejeitando o que não reflete os nossos desejos. Obcecados pelo próprio umbigo e cegos à diversidade, só enxergamos o que nos parece espelho, o que devolve a imagem invertida que projetamos na alteridade.

Quando a pessoa com quem nos relacionamos — seja no amor, seja na profissão — é diferente de nós, quando contraria as nossas expectativas, simplesmente a rejeitamos, entendendo essa negação, voluntária ou involuntária, dos nossos desejos como um ato de hostilidade. A pessoa que não nos parece espelho — feia aos nossos olhos — revela-nos o que não gostamos de ver em nós mesmos, agredindo, assim, os nossos desejos mais profundos, quase sempre inconscientes, que invadem o ego em busca de satisfação.

E quando nos sentimos agredidos, simplesmente reagimos...

 Criamos o nosso próprio sofrimento, mas raramente assumimos o papel que temos nesse processo.

É preciso maturidade para abandonar a visão egocêntrica que temos da nossa própria dor, que sempre imaginamos ser maior e mais profunda do que a dor que causamos aos outros.

Na verdade, é mais fácil iludir-se com o Narciso no espelho, que vemos como uma pobre vítima da crueldade alheia, do que perceber que somos tudo aquilo que negamos em nós mesmos.

Se pudéssemos olhar além do próprio umbigo, sentindo a dor que causamos aos amigos e parentes, agiríamos com mais sensibilidade e amor.

Mas a lei do retorno é cruel: as dores que causamos retornam amplificadas, não por alguma força misteriosa e divina, mas porque despertamos o ressentimento nos corações alheios! E pessoas magoadas se vingam, começando pela língua, que contará o que já souber a seu respeito e inventará o resto, chegando, muitas vezes, a prejudicá-lo com atitudes e gestos. Não crie uma cobra para picá-lo, se puder manter-se longe dela...

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras perdidas nos ermos do tempo.