quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A solidão é cultivada na espera dos amores perfeitos. . .

A solidão é cultivada na espera dos amores perfeitos. . .

Você já leu Jane Austen? Não? Que pena!

Falando dos afetos que esfriam com o passar do tempo ou dos que não resultam em relações de amor duradouras — relações platônicas, eu diria —, Jane Austen usa os dois personagens principais do grande clássico “Persuasion” (“Persuasão”), o Capitão Wentworth e Ana Elliot, para nos falar das relações em que os sentimentos cedem à aparência, em que os ressentimentos desfazem o amor perfeito:

“. . . nunca houve dois corações tão abertos, gostos tão similares, maior comunhão de sentimentos, nem amor mais recíproco. Agora, eram dois estranhos; não, pior do que estranhos, porque jamais poderiam chegar a se conhecer. Era um exílio perpétuo. . .” (Austen, Jane. Persuasion. Phoenix Edition. 2001. p. 43. Chapter VIII: “. . . there could have been no two hearts so open, no tastes so similar, no feelings so in unison, no countenances so beloved. Now they were as strangers; nay, worse than strangers, for they could never become acquainted. It was a perpetual estrangement.”) (A tradução é minha).

E assim, nas pequenas dissonâncias, nos gestos de carinho que não fazemos, no tempo que perdemos em coisas sem importância, vamos perdendo o amor, e nos tornamos estranhos. É um processo lento, normalmente imperceptível, um afastamento sorrateiro e dissimulado, que vai minando o afeto, desfazendo a emoção do encontro, o prazer de estar junto. Um dia qualquer, a relação afetiva, que já foi de amor, torna-se um exílio perpétuo.

Nesses instantes de desilusão, tentamos nos persuadir de que ainda resta esperança no amor. Vamos passear no Shopping, numa noite de sábado, e, entre amores fingidos e falsas aparências, encontramos esses casais de estranhos, gente que caminha sem sorrisos bobos e cumplicidades tolas. Caminhando um pouco mais, percebemos alguma semelhança com os nossos amigos. Continuamos olhando em volta e, em algum ponto da noite, acende-se uma luz em nossa mente; percebemos algo que nos incomoda: estamos agindo exatamente do mesmo jeito. Voltamos o olhar para a companheira ao lado, e não reconhecemos a pessoa de outrora. A bem da verdade, nem nós somos os mesmos... Somos o espelho daqueles casais de estranhos, que caminham a dois passos um do outro, sem trocar olhares de cumplicidade; pessoas que convivem no mesmo ninho, ocupando o mesmo espaço físico, mas sem qualquer sintonia na alma e nas emoções.

As carnes se penetram, mas os espíritos não se tocam. Caminham como mortos-vivos, sem sangue nas câmaras do coração. Por vezes, nem o sexo resiste... Mal se falam, nunca não trocam olhares furtivos, nem escutam silêncios!

Apenas se martirizam, trocam insultos, permanecendo nessa prisão sem grades, com medo de acabar sozinhos. . .

O medo de confrontar o que somos, diante de um quarto vazio, acaba nos persuadindo a aceitar a solidão a dois, o pior dos males a que nos condenamos.

Jorge Araken Filho, alguém que já se persuadiu de que a solidão é cultivada na espera dos amores perfeitos. . .






Os ateus e a intolerância à espiritualidade

Os ateus e a intolerância à espiritualidade

Quem é ateu não culpa Deus de coisa alguma, já que não acredita na sua existência.

Assumir-se publicamente como ateu, mas lançar a culpa dos seus próprios infortúnios em Deus, na verdade, é formação reativa: o que não aceita em si mesmo, por força do recalque, esse falso “ateu” projeta em alguém. Essa é uma forma camuflada e distorcida de trazer à tona, como ateísmo, o material inconsciente que se revela como desejo de acreditar em Deus, que é trabalhado como formação reativa hostil à pulsão religiosa.

O nome desse fenômeno é formação reativa, um mecanismo psíquico que revela a aderência a um pensamento oposto ao que foi, de alguma forma, recalcado, que continua inconsciente, retornando, porém, à consciência sob o disfarce de uma ideia contrária.

Esse pensamento, de alguma forma oposto ao recalcado, mantém o indivíduo em permanente estado de vigília contra algo que imagina poder aniquilá-lo, como se o pensamento recalcado (neste caso, a "muleta" afetiva da religiosidade), retornando à consciência como prazer, representasse a destruição do ego.

O melhor exemplo de formação reativa é o da pessoa com comportamento homofóbico, que, contrariamente ao que expressa, sente-se atraída por pessoas do mesmo sexo. Outro exemplo, igualmente significativo, é o do ateu que hostiliza, gratuitamente, a imagem e a ideia de Deus, sendo intolerante à alteridade e à multiplicidade da experiência humana.

O ego desconhece em si mesmo o impulso religioso do id (mythos) e a sua rejeição defensiva (o material recalcado), assim como o conflito que resultou na implantação dessa antiespiritualidade, oposta ao verdadeiro desejo religioso. Por isso, e como proteção permanente contra o id, o ego focaliza na moção pulsional contrária ao verdadeiro desejo, que a formação reativa substitui, nascendo, como mecanismo de defesa, a aderência ao pensamento oposto à religiosidade recalcada, com a consequente projeção em outrem do comportamento considerado alienante, neste caso a espiritualidade, também chamada de mythos.

Com a formação reativa, que expressa o contrário do verdadeiro desejo religioso, o ego permite o retorno à consciência da sua própria espiritualidade recalcada, que aflora sob o disfarce do preconceito. Essa aparente intolerância ao mundo espiritual gratifica, ao menos em parte, o desejo de expressar a religiosidade reprimida, sem comprometer os valores do superego, que se formam no triângulo edipiano e nas interações familiares e sociais durante a infância. Algum trauma, certamente recalcado no inconsciente, faz surgir uma rejeição preconceituosa à espiritualidade, que passa a ser negada pelo ego e pelo superego como comportamento alienante.

PS: eu ainda sou ateu! Nem superior, nem inferior a quem acredita ou deixa de acreditar; apenas um homem sem fé. . .


Metas para 2016

Metas para 2016:

1) Descobrir em que curva do destino derraparam as metas da minha vida;

2) Deixar de me escravizar a metas e simplesmente deixar rolar. . .

E daí se o abismo estiver adiante? Só assim, saberei se realmente aprendi a voar. . .

Dê um sonoro “foda-se” para as suas metas de 2015 e, se tiver coragem, dê outro ainda maior para as de 2016!

Viva sem amarras desnecessárias, pesos que só dificultam a caminhada, exigências que muitas vezes não representam quem você é, mas apenas satisfazem os que vivem ao seu redor.

A única meta que você deve cumprir é a derradeira: adormecer em um caixão sob sete palmos de terra. . .

À meia-noite, grite aquele “foda-se” que ficou preso na garganta. . .

Meta? A minha meta é viver sem metas. Quando alcançar essa meta, eu dobro a meta. . .

Cuidado com um homem sem metas. Ele não espera ganhar nada e, por isso, não tem nada a perder.

Estou sendo negativo, num tempo de ilusões de bonança?


Pode ser. . . mas sangrei muito, perdi quase tudo e ainda estou vivo. . .

Jorge Araken Filho, apenas alguém que não deseja viver prisioneiro de nada, nem de metas sem sentido. . .


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Embriagai-vos!

Embriagai-vos!

Aos leitores de Charles Baudelaire, especialmente aos ébrios e loucos desse mundo, dedico este poema em prosa:

“Embriagai-vos”
(Charles Baudelaire)
“Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.
Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.
E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna do vosso quarto, despertardes com a embriaguez diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão: — É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!” (BAUDELAIRE, Charles. Pequenos Poemas em Prosa: O Spleen de Paris. Rio de janeiro: Athena Editora, 1937)”.

Essa é a minha homenagem a essa gente que vaga sem nome pelos bares da vida.

Ao contrário dos puritanos, que julgam os ébrios e loucos e apontam seus dedos moralistas, eu adoro o ambiente dos bares e botequins, lugares onde ainda se encontram verdades, muito mais do que em algumas igrejas de pecadores fantasiados de santos, de gente que olha de cima, com altivez e orgulho, os que se embriagam “com vinho, poesia e virtude”.

Depois da quinta garrafa de cerveja, restam poucas mentiras por contar! Quer saber de uma coisa? Vou dar um papo reto: — não há caô que resista ao poder da quinta garrafa! A máscara cai e você se reduz ao que é de verdade, sem ilusões ou fantasias.

Passa a fase do herói, que bate em todo mundo, que ganha de todos na sinuca, do curioso que sabe mais do que o especialista... Pelo ralo do banheiro imundo, que não vê água há séculos, escoa o conquistador, que pega as novinhas da rua, que come as cachorras do escritório. Você se torna você mesmo, com as suas amarguras e ódios reprimidos, desavenças e amores mal resolvidos. Nada de passar cerol nas preparadas e popozudas...

Depois da quinta garrafa, você começa o caminho da verdade: nessa hora, o chifre aparece por encanto... Do nada, surge aquela mercenária que só queria a sua grana. Você chama a sua ex de puta, fala do Ricardão, lembra até do pênis dele, que, obviamente era imenso, muito maior do que o seu. O companheiro de bar, o cara que está ali para ajudar a secar a sua garrafa, de repente se torna o Doutor Freud. Você se deita no divã e, misteriosamente, as palavras começam a transbordar do copo.  Tudo gira em torno do chifre, que você ostenta, de início com raiva e, aos poucos, com estranho e crescente orgulho. – Aquela cachorra vai sentir a minha falta! Ainda vai comer na minha mão... – Seu amigo de copo, fazendo cara de Doutor Freud, ligadão na parada, responde com ar de sabedoria etílica: – Demorô!

Copo vai, copo vem e... a mulher que o traiu, aquela “vagabunda, puta, safada”, que você odiava na primeira garrafa, repentinamente se transforma na mulher ideal, a amante dos sonhos: “Cara, eu amo a Letícia!” Você acha que ela vai voltar? Vou mandar um WhatsApp pra ela:

– Letícia, sua cachorra, eu te perdoo. Volta pra mim! Eu te amo!

– Fonseca, eu estou com outro no motel.

– Não tem problema, eu não sou ciumento, Letícia. Você pode ficar com os dois.

Essa é a vida nos bares, talvez o único lugar onde todo mundo é igual, onde todos carregam as suas dores e desenganos, mas onde ninguém é tão desgraçado que não encontre um ébrio louco, um peito amigo para depositar as suas tragédias. No bar, todos chegam com as suas máscaras, que vão se rasgando diante de seres estranhos, cheios de histórias e desejos, pessoas sem nome que não buscam amigos, mas a cumplicidade de um belo porre. No bar, ninguém sabe o nome do parceiro, nem o chama de "Doutor".

Até no banheiro, os ébrios são solidários, não na cobiça do pênis alheio, mas na escuta daquele cara trancado no sanitário, que solta seus gases reprimidos, numa sinfonia que entorpece os sentidos. Para os ébrios, tudo é diversão, até os peidos menos amistosos...

O bar é o divã dos pobres e desiludidos, dos que buscam a bebida para esquecer a dor que mora n’alma, e, misteriosamente, acabam encontrando os monstros que se escondem no armário.

Quando estamos vulneráveis e fragilizados, física e emocionalmente, para lidar com os desencontros da vida, dizem os menos sensíveis que é falta de maturidade encontrar na bebida o lenitivo para os nossos males. Pode ser verdade. Também sei que o álcool não cura, nem cicatriza as feridas, apenas adormece a consciência.

Mas não vou julgar esses ébrios loucos e sua vontade incontida de afogar as mágoas! Eles sabem que o álcool expõe o que tentam esconder quando estão sóbrios. Nada melhor do que o bar, se você deseja conhecer a pior e mais estranha das criaturas desse mundo: você mesmo!

Por isso, cuidado com o que você diz na hora do porre! A bebida não cria outro ser humano, apenas abre os canais do inconsciente, libertando alguns sentimentos e representações pulsionais das amarras da repressão. Esse monstro que aparece é você mesmo, quando certos conteúdos, recalcados pela censura, retornam à consciência. Não sei se Freud concordaria, mas é melhor não arriscar além de certos limites.

Se preferir beber, aproveite o porre, para descarregar as pulsões mais profundas do aparelho psíquico, liberando as energias negativas que o prendem aos traumas.

É verdade que você não deve beber, para se sentir melhor, mas para se sentir ainda melhor.

Quer um conselho?

Tome seu porre, encha a cara sem medo de ser julgado pelos puritanos de almanaque. Eles haverão de julgá-lo de qualquer jeito, mesmo que você esteja na Igreja. Sempre terão algo a dizer, talvez mencionem que é falsidade ou digam, entre cochichos, que você nunca prestou.

Pelo menos, você ganha um tempo para recompor as forças, uma anestesia para iniciar o procedimento cirúrgico nas emoções.

Pensar em coisas sérias, quando você está na fossa, sentindo-se um lixo, é a pior das opções. Por isso, desencane e beba, se tiver vontade, e esqueça os seres humanos perfeitos. Eles são um saco! Aproveite para falar mal dos pecadores que se acham santos. Use-me para isso, se desejar: serei um bom bebedor e um ótimo ouvido, se você pagar a conta do bar! Sou apenas um escritor falido. Aceito convites...

Meus amigos leitores, o papo é sério! Para mergulhar nesse submundo de homens e mulheres cheios de histórias, pessoas sem meias palavras, que abandonam as amenidades e elegâncias, tenho frequentado alguns bares do Rio de Janeiro, desses com ovos coloridos e moelas no velho balcão.

Ando recolhendo histórias de vida, contando, sem compromisso com os preconceituosos, o que essa gente traz no coração e derrama em um copo de cerveja.

Um dia contarei tudo...

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras que se embriaga “com vinho, poesia e virtude”!




terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O preconceito nasce com a criança ou se constrói nas interações humanas?

O preconceito nasce com a criança ou se constrói nas interações humanas?

A melhor reposta, encontro-a em Charles Baudelaire:

“O BRINQUEDO DO POBRE
     (Charles Baudelaire)
Quero dar uma ideia de um divertimento inocente. São tão poucas as diversões que não merecem uma censura! Quando saíres de manhã, com a firme intenção de vadiar pelas grandes estradas, enche os teus bolsos de pequenos inventos, como o polichinelo movido por um barbante, os ferreiros que batem na bigorna, o cavaleiro e o cavalo com rabo de assobio.
Depois, pelos botequins, junto das árvores, presenteia as crianças desconhecidas e pobres que encontrares.
Elas arregalarão os olhos. A princípio, não ousarão pegar, duvidando da própria felicidade.
Mas, em seguida, segurarão vivamente o presente e fugirão como o gato que vai comer longe o que lhe deram, por ter aprendido a desconfiar dos homens.
Numa estrada, atrás da grade de um vasto jardim, no fundo do qual se destacava a brancura de um belo castelo batido pelo sol, estava um lindo e robusto menino, vestido com essa roupa de campo tão cheia de faceirice.
O luxo, a despreocupação e o espetáculo habitual da riqueza tornam essas crianças tão bonitas que parecem feitas de outra massa que não as crianças comuns ou da pobreza.
Ao lado dele, jogado na relva, via-se um boneco esplêndido, novo como o dono, envernizado, dourado, com um vestido de púrpura, coberto de plumas e miçangas. O menino, porém, não dava atenção ao seu brinquedo predileto, e eis o que olhava: Do outro lado da grade, na estrada, por entre os espinhos e as urtigas, estava outro menino, sujo, miserável, manchado de fuligem. Era um desses moleques em quem uma vista imparcial descobriria a beleza, se, assim como a vista de um entendido adivinha uma pintura ideal sob o verniz de um carro, fosse ele lavado da pátina repugnante da miséria.
Através aquela grade simbólica separando dois mundos, a grande estrada e o castelo, o menino pobre mostrava ao menino rico o seu brinquedo, que este último examinava avidamente, como um objeto raro e desconhecido. E o brinquedo que o sujo garoto atormentava, agitava e sacudia numa caixa engradada, era um rato vivo! Os pais, decerto por economia, tinham tirado o brinquedo da própria vida! E os dois meninos riam-se um para o outro, fraternalmente, com dentes de igual brancura.” (BAUDELAIRE, Charles. Pequenos Poemas em Prosa: O Spleen de Paris. Rio de janeiro: Athena Editora, 1937).

Preciso dizer mais alguma coisa?

Creio que para bom entendedor, meia palavra basta. E Baudelaire, mais do que abunda. . .

Jorge Araken Filho, um andarilho que luta contra os moinhos de vento do preconceito.


A farsa

A farsa

Enquanto muitos vivem seus sonhos, outros apenas sonham a vida.

O que eu tenho feito?

Vou representando essa farsa que é a vida. . .


A última coca-cola gelada

A última coca-cola gelada

No dia em que as pessoas começarem a me ver como eu as vejo, todos andaremos despidos, não das vestes da próxima estação, mas das máscaras que encobrem egos embolorados pelo ranço da arrogância.

Perdoem-me as palavras amargas, como o fel da inquietude, mas ando sem paciência com quem descobre em si mesmo a derradeira coca-cola gelada no deserto do Saara.

Comece sendo apenas você mesmo, e acabará sendo único. . .

Por enquanto, você não é nada: é apenas mais um arrivista que pisa em todos para ser alguém que não é, e nunca será.

Jorge Araken Filho, apenas um andarilho do deserto.


Quando o oprimido começa a amar o opressor, eterniza-se a opressão

Quando o oprimido começa a amar o opressor, eterniza-se a opressão

Enquanto você descansa em sua conformidade resignada, a imprensa, serviçal do poder, falsifica as "verdades" que vão pingando das suas entranhas apodrecidas. Depois de se refestelar com os ratos, nos esgotos do poder, ainda recolhe as migalhas do banquete, vende mentiras e aluga ilusões a falsos sábios, como você, gente alienada e serviçal das ideias alheias, pobres diabos que se encastelam em suas certezas inocentes!


É o oprimido que começa a amar o opressor, para continuar sendo oprimido. . .

Jorge Araken Filho, apenas um libertário. 


Semeando poesia e colhendo liberdade

Semeando poesia e colhendo liberdade

“A quem me alugar? Que besta é preciso adorar? Que santa imagem atacar? Que corações destruirei? Que mentira devo sustentar? Sobre que sangue caminhar?” — Perguntava-se Arthur Rimbaud, “l’enfant terrible (“a criança terrível”) da poesia francesa (Arthur Rimbaud, “Uma Estação no Inferno”: “Mau sangue”).

Cabe ao poeta desnudar as máscaras da conformidade resignada, demolir as barreiras da falsa moral burguesa, desfazer as certezas confortáveis e rotas, para iluminar as sombras desse universo que caminha apesar de nós, e malgrado os nossos desatinos.

Como um andarilho do tempo, que vai reencontrando enquanto caminha, ele semeia poesia e colhe a liberdade de ser tudo que ele na verdade é.

O poeta não carece de drogas, para desregrar os sentidos; ele é a própria droga, e você, leitor, a pobre vítima do seu inebriante mel. . .

Jorge Araken Filho, mau poeta, escritor maldito, apenas um ser humano nessa pequena “Estação no Inferno” que é a vida. . .


Quem sabe a vida é apenas “uma estação no inferno”?

Quem sabe a vida é apenas “uma estação no inferno”?

Para começar o dia — e já revelando as minhas entranhas —, ofereço-lhes Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, “l’enfant terrible (“a criança terrível”) da poesia francesa e, nas horas vagas, amante de Paul Verlaine, “le poète maudit”  ("o poeta maldito") da velha Paris do séc. XIX:

“Uma estação no inferno”
     (Artur Rimbaud)
Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos.
Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. — E achei-a amarga. — E injuriei-a.
Armei-me contra a justiça.
Fugi, ó feiticeiras. ó miséria, ó ódio, a vós é que foi confiado o meu tesouro!
Tudo fiz para que se desvanecesse em meu espírito a esperança humana.
Como um animal feroz, investi cegamente contra a alegria para estrangulá-la.
Conjurei os verdugos para morder, na minha agonia, a culatra de seus fuzis. Conjurei as pragas, para afogar-me na areia, no sangue. Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.
E a primavera trouxe-me o horrível gargalhar do idiota. Ora, por último, chegando a ponto de quase fazer o trejeito final, sonhei encontrar a chave do festim antigo, no qual talvez recobrasse o apetite.
A caridade é essa chave. - Esta inspiração prova que tenho sonhado!
‘Sempre serás hiena, etc...’ — exclama o demônio que me coroou de tão amáveis papoulas. — ‘Vence a morte com todos os teus apetites, com todo o teu egoísmo e todos os pecados capitais’.
‘Ah! Estou farto de tudo isso.’ — Mas, querido Satã, eu te conjuro a que não me fites com pupila tão irritada! E à espera das pequenas covardias atrasadas, para vós outros que admirais no escritor a ausência das faculdades descritivas ou pedagógicas, para vós arranco algumas hediondas páginas do meu caderno de condenado.” (Arthur Rimbaud, “Uma Estação no Inferno”).

A vós, meu querido “Lúcifer”, Arcanjo “portador a luz”, eu entrego as minhas páginas de dor e agonia, ofereço as palavras pequenas e banais desse tempo de sombras. Por vós, Anjo decadente, eu grito os silêncios dilacerados das esperas inúteis, mordo os afetos estrangulados entre as ausências que oprimem o coração e as presenças que revelam o caminho do abismo.

Também estou farto de tudo isso. . . Mas sei que foram as pequenas covardias do passado, os temores do que não ousei fazer, os sabores que não experimentei, as cores que não pintei nas telas da existência que forjaram a lâmina quente com qual, agora, vós me perfurais as entranhas.

Quem sabe a vida é apenas “uma estação no inferno”, e o vosso tridente, a minha própria covardia?

Jorge Araken Filho, apenas um coletor de palavras que andou tomando drinques no inferno. . .


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Sabe de uma coisa?

Sabe de uma coisa?

A vida é curta: não continue falando à pessoa que você ama o que ela simplesmente não deseja escutar.

Se ela não corresponde ao seu amor, apenas siga em frente! Nada de culpas ou culpados...

Cada dia perdido é um a menos na conta. Pense nisso!


As aparências enganam

As aparências enganam

É melhor não prejulgar: nem sempre aquela pessoa fácil é galinha: pode ser apenas baixa autoestima.




Perdas e danos

Perdas e danos

Valorizar a perda, lamentando, eternamente, o que se foi, é como paralisar a vida nas ilusões do que poderia ter sido, ao invés de trazer à memória os momentos de prazer efetivamente vividos.

É só mudar a perspectiva do olhar: aprisionar-se ao tempo perdido, valorizando os danos e não os gozos, pode fazê-lo perder o tempo ainda não vivido.

Você pode passar a vida reclamando do sol ou agradecendo por não viver um mundo de gelo.