Quantas pessoas, melhores do que
eu, mais maduras, talvez, acabaram seduzidas pelo meu canto de sereia, a
pequena porção consciente e visível do meu ser, e naufragaram na desilusão e no
sofrimento, atingidas pela parte submersa do meu iceberg, onde se escondem os
meus medos, recalques, fantasias, desejos irracionais e egoístas, compulsões e
impulsos agressivos?
Quantas vezes eu mesmo, quando vi
no outro a minha parte invisível e submersa, acabei fugindo das águas quentes e
plácidas do lago do amor e da verdadeira amizade, para navegar em mares
traiçoeiros, cheios de icebergs, ardilosamente ocultos sob a camada superficial
de pessoas de gelo?
Quando alguém foge de nós, a
primeira atitude de defesa do ego, reação inconsciente à dor, é buscar culpados
para as nossas próprias culpas, sem perceber que a mente humana, como um
iceberg flutuando no oceano, tem uma grande porção submersa, que não vemos, mas
pode atingir o outro antes que ele alcance a nossa parte visível.
Somos pródigos em apontar o dedo,
mas não olhamos abaixo da superfície do nosso próprio ego, fugindo do que
somos, para não assumir que muita gente boa naufragou em nossas geleiras
submersas. . .
Por medo de olhar para dentro, escolhemos
ser vítimas do Titanic, quando, na verdade, somos o iceberg que o afundou. . .
Jorge Araken faria da Silva Filho, apenas um iceberg à procura de suas
profundezas ocultas.